Cedigma

UMA ANÁLISE FUNCIONAL DOS SUBPRODUTOS DA EXTINÇÃO NA MÚSICA MENTIRAS DE ADRIANA CALCANHOTO

RESUMO

O artigo trata de uma análise funcional da música mentiras da cantora e compositora brasileira Adriana Calcanhoto realizada sob os princípios fundamentais da Análise do Comportamento. Preocupa-se em demonstrar processo de extinção de um comportamento, bem como as variações comportamentais durante todo o processo de extinção operante diante da suspensão de um reforço, tais como a resistência à extinção, fatores que influenciam a resistência à extinção e outros efeitos da extinção operante. O estudo é parte integrante da finalização do Grupo de Estudos em Terapia Analítico Comportamental do Centro de Análise do Comportamento – CENACOM. Foram levantados dados no LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde), Scielo (Scientifc Eletronic Library OnLine) em livros e revistas sobre Análise Comportamental como base para o referencial teórico/bibliográfico. Como objetivo principal o estudo analisa a extinção e seus subprodutos. O estudo tem ainda como objetivos específicos: apresentar os aspectos teóricos da análise funcional, possível relação entre o aumento da frequência de resposta, da variabilidade da topografia da resposta e eliciação de respostas emocionais como determinante da mudança de comportamento e aquisição de repertório comportamental. A análise funcional da canção possibilitou verificar que a variação do comportamento diante da suspenção do reforço de alta intensidade é significante, o que permite qualificar o estudo como parte relevante para outras pesquisas usando como instrumento de análise comportamental outras fontes que não sejam o próprio indivíduo.

Palavras-chaves: Extinção, Reforços, Comportamento Operante, Comportamento Respondente.

INTRODUÇÃO

A música sempre esteve em nosso meio como forma de expressar as emoções, as lutas diárias, como parte integrante de todo o ciclo vital da pessoa enquanto pertencente à sociedade. São simplesmente sete notas musicais que de acordo com suas combinações dão origem aos mais variados sons, ritmos. A música está presente no nosso cotidiano, desde os tempos tribais, onde se cantava ou tocava instrumentos, para anunciar guerras, comemorar colheitas, fazer rituais ou tinha a simples função de ninar uma criança, não obstante se utilizava os sons musicais para lamentar uma morte ou ainda para “chamar” a chuva. No entanto quando falamos de música e de ritmos nos vem à lembrança alegria, dança e festas. Mas a música não é só composta de notas musicais com a junção da letra ao ritmo, ela acaba por ser responsável por dar sentido e trazer reflexões, cada ritmo, cada som em diferentes etnias e culturas traz consigo o pensamento de uma época, os valores e que nada mais são do que comportamentos.

Alguns comportamentos são eventos públicos outros privados de acordo com Skinner (1945, 1953/1965, 1969, 1974) os eventos privados são definidos como estímulos e respostas acessíveis de modo direto apenas ao próprio indivíduo a quem dizem respeito. O mesmo autor ressalta que os eventos públicos se diferem por poder ser acessados por outros indivíduos. Tomando por base essas afirmações, as músicas através de suas letras trazem em seu conteúdo parte de um repertório que a princípio era privado, ou seja, encoberto, mas a partir do momento que são explicitadas as ideias, as emoções se tornam um evento público. O conteúdo musical é por sua vez carreado de emoção que para um behaviorista radical, esse sentimento se assim podemos chamar, nada mais é que um tipo de comportamento tais como: andar, correr, chorar, pensar como tantos outros.

O estudo irá tratar de uma análise funcional de uma música bem conhecida do cancioneiro popular brasileiro, não faz parte do nosso propósito dizer que a Análise Comportamental é a única vertente digna de aceitação dentro da Ciência Psicologia, no entanto queremos que o leitor observe com uma das lentes dessa ciência, que é o behaviorismo, como podemos usar de uma leitura psicológica para eventos cotidianos como o simples cantarolar de uma canção, e também com o interesse de fazer instigar

outras pesquisas na área comportamental que de fato facilite o acesso e discussão que bem como trazer o nosso saber para mais perto da comunidade acadêmica em outras áreas que nos propusermos a esse desafio.

O estudo está dividido em uma breve um histórico sobre os aspectos teóricos da análise funcional, extinção e seus subprodutos através da exposição da música Mentiras de Adriana Calcanhoto. A escolha dessa música se deu pelo fato de apresentar componentes didáticos para o entendimento de conceitos que são em sua maioria complexos. Desta forma iremos abordar as estrofes da música, ressaltando não só os aspectos emocionais, mas as contingências que levam a variação de comportamento no processo de extinção.

Faremos a seguir a exposição da letra da música:

Nada ficou no lugar

Eu quero quebrar essas xícaras Eu vou enganar o diabo

Eu quero acordar sua família Eu vou escrever no seu muro E violentar o seu gosto

Eu quero roubar no seu jogo Eu já arranhei os seus discos

Que é pra ver se você volta Que é pra ver se você vem Que é pra ver se você olha Pra mim

Nada ficou no lugar

Eu quero entregar suas mentiras Eu vou invadir sua aula Queria falar sua língua

Eu vou publicar seus segredos Eu vou mergulhar sua guia

Eu vou derramar nos seus planos O resto da minha alegria

Moreira e Medeiros (2007) descreve no livro, Princípios de Análise do Comportamento, que para se compreender a conduta de qualquer indivíduo, ou até mesmo a própria conduta, é preciso identificar as consequências do comportamento. É destacado que através de duas perguntas pode-se constatar o comportamento: a primeira é ‘’O que ela fez?’’, a outra seria ‘’O que aconteceu então?’’. Diante dessas perguntas poderá detectar uma visão mais prática do comportamento do indivíduo, e assim se for o caso, mudar o comportamento. Isso

é a essência da análise de contingências, ou seja, é fazer a identificação do comportamento e sua consequência. Ainda segundo Skinner (2003), quando se tenta obter uma previsão e um controle do comportamento, implica identificar todos as variáveis externas, as variáveis dependentes e independentes em que o próprio comportamento é função e isso nomeia-se como análise funcional ou de contingências.

Análise Funcional da Personagem da Música

O termo Análise Funcional é utilizado para descrever um comportamento, seus antedecendes e consequentes, tendo como paradigmas os respondentes e operantes, na verdade o que buscamos com essa análise é os determinantes para ocorrência de um comportamento ou a manutenção do mesmo. Nesse aspecto o behaviorismo admite três níveis de causalidade de comportamento que são: níveis filogenético, ontogenético e cultural. As caracteristícas do nosso comportamento selecionadas pelo ambiente são inerentes à nossa espécie, fazem parte do nível filogenético, quando a modificação do comportamento ocorre pela interação com o meio durante a vida do organismo, estas mudanças estão no nível ontogenético, já o nível cultural abrange variáveis advinda do comportamento de outras pessoas como modismo, ideologia, preconceitos etc.

Matos (1999), expõe em seu artigo que a Análise Funcional se solidifica com uma ação imprescindível do analista do comportamento em fazer essa análise de reforçamento, bem como observando as contigências em que ele ocorre, e ainda as funções estabelecedoras do comportamento. O mesmo autor ainda discorre sobre os cinco passos que o analista deve seguir para descrever o comportamento e sua função (MATOS,1999):

  1. Definir precisamente o comportamento de
  2. Identificar e descrever o efeito
  3. Identificar relações ordenadas entre variáveis ambientais e comportamento de Identificar relações entre o comportamento de interesse e outros comportamentos existentes.
  4. Formular predições sobre os efeitos de manipulações dessas variáveis e desses outros comportamentos sobre o comportamento de
  5. Testar essas predições.

Fazer uma Análise de Contingências implica em descobrir a função de um determinado comportamento, ou seja, qual a variável ou as variáveis que o mantém. Nesse aspecto o termo função carrega em si o significado etimológico, mas como a variável Y se modifica em relação ao X, ou seja como o comportamento se modifica com alteração do ambiente e como o ambiente é modificado com o comportamento, Costa (2005) explica que a função de forma didática, trata-se de uma relação de dependência entre os eventos ambientais sobre aspectos do comportamento.

De acordo com o conceito de Análise Funcional ou de Contingências descrito anteriormente faremos uma anocronia da Música Mentiras de Adriana Calcanhoto, através das contigências, analizando a variação do comportamento diante a suspensão de reforço de alta magnetude. Para tanto, serão necessárias inferências e hipóteses com objetivo de investigar as funções de cada comportamento emitido. Partindo dessa premissa, a música será avaliada funcionalmente, e isso implica dizer, segundo Dunlap e Kincaid (2001), que é quando se utiliza de identificação, análise, observação, através de estratégias, os antecedentes e consequentes de toda a gama de eventos que controlam o comportamento problema sem que haja uma manipulação dos eventos ocorridos. Ainda sobre essa questão os mesmos autores descrevem a existência de várias formas de uma avaliação funcional, a indireta, direta e experimental. A que será feita nesse trabalho é a análise funcional indireta.

Para um melhor entendimento, a música será analizada por estrofes, com objetivo de facilitar tanto a investigação quanto a compreensão do conteúdo abordado, desmonstrando:

Nada ficou no lugar

Eu quero quebrar essas xícaras Eu vou enganar o diabo

Eu quero acordar sua família Eu vou escrever no seu muro E violentar o seu gosto

Eu quero roubar no seu jogo Eu já arranhei os seus discos

Inicialmente iremos destacar a música obedecendo a métrica utilizada para poesia, ou seja, será decomposta a partir de suas linhas, até findar a estrofe. Dessa forma o leitor terá uma melhor compreensão da análise realizada. Como proposta crucial do artigo é trazer a análise comportamental ou mais próximo possível da comunidade em geral e assim poderemos demonstrar a aplicabilidade de alguns de seus conceitos em nosso cotidiano.

Seguindo essa proposta iniciaremos análise da linha 1 (Nada ficou no lugar). Nesta linha podemos observar, uma afirmação de que há uma desorganização, ou um desarranjo, podemos supor que a pessoa que fala, tinha uma vida ou um ambiente doméstico bem tranquilo, mas que de repente a mesma se dá conta que não era como antes, no entanto não podemos inferir o que aconteceu para que ela se encontre em meio a esse caos. Na segunda linha (Eu quero quebrar essas xícaras) o personagem em questão nos dá mais pistas do porquê sua vida tenha se desestabilizado, ela expressa um desejo, antes um evento privado de quebrar algumas coisas nesse caso, as xícaras. Zuriff (1979) destaca dez causas internas que são variáveis encobertas que funcionam como estímulos discriminativos, reforçadores positivos e negativos, bem como respostas pré-concorrentes, todas elas estão sob o controle de variáveis ambientais externas, no entanto considera que agem como elo intermediário em uma cadeia causal. O mesmo autor afirma que o comportamento verbal encoberto pode servir como estímulo discriminativo para um comportamento não verbal subsequente como no pensamento e na solução de problemas como vemos na linha 3 (Eu vou enganar o diabo), nesse trecho da música observamos uma variação de comportamento para a solução de um problema, o personagem, começa a conjecturar uma possível negociação com um ser emblemático que segundo a Religião Cristã, além de simbolizar o mal, é tido como o pai da mentira. Skinner (1957, p.449) se referindo ao pensamento afirma:

“A perspectiva mais simples e satisfatória é que pensamento é simplesmente comportamento – verbal ou não-verbal, encoberto ou aberto. Não é algum processo misterioso responsável por comportamento, é o próprio comportamento em toda a complexidade de suas relações controladoras relativas a ambos, o homem que se comporta e o ambiente em que ele vive”.

A partir da linha 4 podemos constatar que todos esses eventos privados, expressados em desejos e/ou pensamentos são por uma pessoa, quando o personagem refere (Eu quero acordar sua família), ainda não temos subsídios que nos respalde sobre o que aconteceu para que o mesmo queira acordar família de alguém, mas na linha 5 (Eu vou escrever no seu muro), podemos observar que a variação de comportamento acontece de forma progressiva e agressiva. Citando mais uma vez Skinner: que afirma “(…) pensamento é simplesmente comportamento” (1957, p. 449), ou ainda que “(…) pensar é comportar-se” (1974, p. 104), afirma que não há uma espécie ou tipo de comportamento chamado pensamento. As linhas 6 (E violentar o seu gosto) e 7 (Eu quero roubar no seu jogo) algumas inferências podem ser feitas a respeito das duas frases: a primeira que o personagem está em estado de privação da presença de alguém talvez quem sabe do seu amado, partindo desse pressuposto esse comportamento verbal no caso a pessoa estivesse ainda presente, o que nos faz concluir que a ausência é um dos fatores de manutenção desse comportamento. Na linha 8 (Eu já arranhei os seus discos), percebemos aqui que as ameaças tomam uma conotação concreta, quando o personagem afirma ter causado danos material à pessoa amada, de forma mais objetiva quando estamos privados de algo tentamos buscar para nós, isso acontece com água, comida e também com atenção, carinho e afeto, desta forma pedimos a presença de alguém veementemente, como reforço.

A estrofe seguinte descrita nas linhas de 9 a 12 (Que é pra ver se você volta – Que é pra ver se você vem – Que é pra ver se você olha pra mim), observamos o estado de privação da presença da outra pessoa e uma explicação que o personagem dá aos comportamentos verbais por ele emitidos. Presumimos que houve um relacionamento entre os personagens descritos na letra da música e que por algum motivo se findou, e que esse relacionamento era extremamente reforçador para o que ficou em casa, ainda afirmamos que os comportamentos verbais, bem como a variação no repertório comportamental são tentativas de obter novamente os efeitos que a presença do amado eliciava.

Na estrofe seguinte há uma repetição da primeira linha da canção (Nada ficou no lugar), aqui não está claro se a “bagunça” se refere a ter quebrado tudo naquele ambiente ou simplesmente uma alusão ao fato de que a ausência do outro causa uma forma de inadequação diante da suspensão de um reforço. O que fica claro é que extinção de comportamentos tais como: (obter atenção, receber carinhos, ter a companhia do outro), aumenta a frequência de emissão de comportamento bem como a variabilidade de topografia, mas com a mesma função que é o retorno da pessoa que ela ama e a permanência dos reforços que ela considera importante, observamos isso no final da última estrofe nas linhas de 14 a 20 ( Eu vou entregar suas mentiras – Eu vou invadir sua aula – Queria falar sua língua – E vou publicar seus segredos – Eu vou mergulhar sua guia –Eu vou derramar no seus planos – O resto da minha alegria). Seguindo análise da estrofe, o personagem ver no outro a razão imprescindível para sua felicidade, por esta razão o mesmo não parece levar em consideração o fato de sua presença não seja mais reforçadora para o parceiro e por essa razão mantém essa topografia de comportamentos.

A Figura 1 representa a Análise Funcional do comportamento do personagem para obtenção de atenção do companheiro:

Gráfico produzido pelas autoras

De acordo com Skinner (1957) ao longo da vida, indivíduos aprendem a se comportar a partir das consequências produzidas pelas suas respostas e como essas consequências retroagiram sobre tais organismos. Muitas relações de reforçamento são duradoras e se mantêm ao longo do tempo, as relações parentais, as de pares e por último e não menos importante, as relações “amorosas”. Para a manutenção do reforço positivo cujo antecedentes giram em torno de atenção e companhia da pessoa amada, o personagem emite uma variação de resposta ou topografia, cuja a função é a mesma, a volta do ser amado, ou seja a manutenção do grupo de reforçadores daquela relação.

A Análise Funcional realizada na música, observa-se, que a supressão dos reforçadores, dão início ao processo de extinção do comportamento o qual detalharemos a seguir:

Extinção Operante na Música Mentiras

Para entendermos o processo de extinção na música, deveremos passar pelo conceito. Desta forma a extinção pode ser definida tanto como um procedimento quanto como um processo. Como um procedimento, a extinção consiste na suspensão do reforço anteriormente liberado contingente a uma resposta e, consequentemente, na remoção da relação de dependência entre resposta e reforço. Enquanto um processo comportamental, a extinção ocorre quando o responder retorna aos níveis pré condicionamento, e ao nível operante (Catania, 1998/1999; Mackintosh, 1974; Skinner, 1938). Por sua vez Milenson (1967) destaca que, para que haja o procedimento de extinção, primeiramente é necessário que uma resposta seja fortalecida, permitindo então que o reforçador deixe de ser liberado. Milenson (1970) ainda discorrendo sobre extinção descreve no capítulo inicial do seu livro que:

Quando a conexão entre uma resposta operante e seu reforçador é abruptamente interrompida, um processo comportamental característico é produzido. As características deste processo, que é chamado extinção, desempenham uma parte importante na construção e manutenção de padrões complexos de comportamento (Milenson, 1970, p. 89).

O mesmo autor, ainda no mesmo capítulo apresenta o que chama de uma definição mais completa de extinção, como uma proposta de mais fácil compreensão, então dada uma resposta operante previamente fortalecida, após retirar o reforço operante pode ocorrer: um declínio gradual um tanto irregular da taxa marcado por aumentos progressivos de frequências de períodos relativamente longos de não responder, um aumento na variabilidade de forma (topografia) e da magnitude da resposta ou ainda uma ruptura gradual dos elos ordenados que constituem o comportamento fortalecido. (Milenson, 1970).

Ao estudarmos os textos de Skinner constatamos que a extinção, além de promover o enfraquecimento da resposta pode apresentar outros efeitos, Skinner (1953, pp.69,70):

Sob algumas circunstâncias a curva é perturbada por um efeito emocional. O não reforçamento de uma resposta leva não apenas à extinção operante, mas também a uma reação comumente chamada de frustração ou raiva. Um pombo que não recebeu reforço afasta-se da chave, arrulha, bate suas asas (…) O organismo humano mostra um duplo efeito similar. A criança cujo velocípede não mais responde ao pedalar, não apenas pára de pedalar, mas também exibe comportamental possivelmente violento. (…) Assim como a criança finalmente volta para o velocípede (…) também o pombo voltará novamente para a chave quando as respostas emocionais desaparecerem. Na medida em que outras respostas [de bicar a chave, de pedalar] ocorrerem sem reforço, outros episódios emocionais podem acontecer. Sob tais circunstâncias, as curvas de extinção mostram uma oscilação cíclica à medida que as respostas emocionais surgem, desaparecem e surgem novamente. (Skinner, 1953, pp. 69, 70).

Partindo desse princípio, observa-se que muitas alterações no responder ocorrem quando a relação resposta-reforço é suprimida e a extensão e características dessas alterações levam muitos autores a falar em efeitos emocionais da extinção, como é o caso de Keller e Schoenfeld, que ressalta essas mesmas alterações indicadas por Skinner e descrevem uma curva de extinção:

A curva de extinção para uma resposta até então regularmente reforçada (isto é, com um reforçamento para cada emissão) é geralmente, senão sempre, bastante desigual. Começa com uma inclinação maior (frequência de resposta mais alta) do que a inclinação durante o reforçamento regular, em parte porque as respostas não são mais separadas pelo tempo gasto no comer e em parte porque o animal tende a atacar vigorosamente a barra (…). Depois, a curva é marcada por mudanças de frequência que se assemelham a ondas, as quais a distorcem localizadamente, embora ainda permitam traçar uma ‘curva padrão’ que descreve a tendência geral. Esses jorros e depressões da resposta poderiam ser caracterizadas em termos emocionais, o paralelo das mais complexas frustrações e agressões vistas no homem. (Keller e Schoenfeld, 1968, p. 71).

Quando falamos em extinção, então, devemos ter claro que a ruptura da relação resposta-reforço produz um conjunto grande de alterações no responder. É importante ressaltar algo que já foi indicado: as dimensões envolvidas nestas alterações (por exemplo, o tempo necessário para que a alteração ocorra, a magnitude da alteração) dependem da história anterior de reforçamento. (Skinner,1953).

Tendo observado brevemente o processo de extinção Segundo Catania (1999), dois critérios vêm sendo adotados quando se trata de medir a resistência à extinção:

(a) o número de respostas emitidas durante a extinção, ou (b) o período de tempo em que respostas são emitidas. Em qualquer dos casos é necessário estabelecer arbitrariamente um critério do que será considerado como extinção. Podemos retornar a análise a respeito da música Mentiras.

Retornaremos a segunda estrofe da música:

Nada ficou no lugar

Eu quero entregar suas mentiras Eu vou invadir sua aula Queria falar sua língua

Eu vou publicar seus segredos Eu vou mergulhar sua guia

Eu vou derramar nos seus planos O resto da minha alegria

Nesta parte da música a personagem dá indícios sobre o processo da variação do seu comportamento, frente a supressão do reforço de atenção da pessoa amada.

Aumento inicial na taxa de resposta, podemos observar nas duas primeiras linhas, nas frases: “ Nada ficou no lugar / eu quero entregar suas mentiras”. A exposição à extinção produz um aumento inicial na frequência, taxa ou magnitude do responder (Goh & Iwata, 1994; Skinner, 1938; Uhl & Homer). Partindo desse princípio, os analistas do comportamento concordam que um dos principais processos relacionados às oscilações emocionais na ruptura de um relacionamento é a extinção, como fora explanado anteriormente. De acordo com eles o comportamento é mantido por suas consequências, no entanto após a suspensão do reforço, no primeiro momento o que se vê é aumento da resposta, processo de variação que são tentativas, diferentes com objetivo de conseguir as mesmas coisas. As reações emocionais que normalmente as pessoas descrevem nesse período, como observamos na letra da música é de frustração ou raiva.

A intensidade das reações emocionais, estará intrinsecamente relacionada ao valor que a relação tinha na vida daquela pessoa, como vemos nas frases: Eu vou invadir sua aula/ Queria falar sua língua/ Eu vou publicar seus segredos. Cabe ressaltar que quanto menos fontes de satisfação pessoal, tais como: família, lazer, amigos, trabalho, maior valor o indivíduo dará aquela perda, ou seja maior crise emocional, após o rompimento do relacionamento, lembramos ainda, que este é um padrão comportamental para toda e qualquer perda. É o que Skinner (1953) chamou de resistência à extinção e possui as seguintes variáveis, segundo o autor: quantidade de reforçamento anterior, bem como esquema de reforçamento desta resposta e ainda a possibilidade de reforçamento acidental. Nas linhas seguintes observamos com

mais clareza a resistência à extinção: Eu vou publicar seus segredos/ Eu vou mergulhar sua guia/ Vou derramar no seu gosto o resto da minha alegria. Como afirma Catania (1998/1999), a remoção de estímulos reforçadores e de contingências de respostas pode ter efeitos indutor de resposta. Ainda sobre o processo de extinção, sabe-se que o mesmo muda a forma como o organismo interage com o seu ambiente, ou seja o responder em outras contingências é alterado, formas anteriores de respostas reaparecem, bem como que comportamento, respostas emocionais e por fim, respostas supersticiosas podem ser observadas.

Considerações Finais

A análise da Música Mentiras, nos traz os pontos importantes para Análise do Comportamento, dentre os quais destacamos um em especial – Processo de Extinção, que conforme mencionado no texto, ocorre quando há diminuição ou remoção dos reforçadores que apresenta como resultado a gradual diminuição da frequência de ocorrência do comportamento. Existem fatores que influenciam a resistência à extinção tais como: número de reforços anteriores, custo da resposta e esquema de reforçamento.

A extinção apresenta ainda outros efeitos, que são: aumento na frequência da resposta no início do processo, aumento na variabilidade da topografia (forma) da resposta e eliciação das respostas emocionais. Outro fato importante é que com o passar do tempo eventualmente as reações emocionais tendem a diminuir. Para terminar um relacionamento, a pessoa precisa ser capaz de desenvolver repertório que auxilie a passar pelo processo de extinção imediato, principalmente em relacionamentos longos.

Também vale encorajar a busca por outras fontes de satisfação e prazer, ou seja outros reforçadores, tais como atividades físicas, de lazer, contatos com amigos que servirão como suporte para passar pela fase de maior instabilidade emocional bem como aumentar uma rede de apoio que promova experiências e agreguem novas possibilidades, novos aprendizados e quem sabe um novo relacionamento.

Referências:

CATANIA, A. C. (1999). Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição (D. G. de Souza, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1998.)

CATANIA, A. C. (1999). Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed

KELLER, F. S. e SCHOENFELD, W. N. (1968). Princípios de Psicologia. São Paulo:Herder.

COSTA, N. (2005). Contribuições da Psicologia Evolutiva e da Análise do Comportamento acerca do ciúme. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e e Cognitiva, Vol.VII.

DUNLAP, G., & KINCAID, D. (2001). The widening world of functional assessment: comments on four manuals and beyond. Journal of Applied Behavior Analysis, 34, 365-377.Fonte: http://doi.org/10.1901/jaba.2001.34-365

GOH, H., & IWATA, B. A. (1994). Behavioral persistence and variability during extinction of self-injury maintained by escape.Journal of Applied Behavior Analysis, 27, 173-174.

MACKINTOSH, N. J. (1974). The psychology of animal learningLondon: Academic Press.

MILLENSON, J.R. (1970) Princípios de Análise do Comportamento. Brasília: Coordenada Editora.

Moreira, M. B., & Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed

SKINNER, B. F. (1945). The operational analysis of psychological terms.Psychological Review, 52, 270-277/291-294.

SKINNER, B.F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Mc Millan. SKINNER. B. F. (1957) Verbal Behavior. Englewood Cliffs, N. J.: Prentice-Hall

SKINNER, B. F. (1965). Science and human behavior. New York/London: Free Press/Collier MacMillan. (Original: 1953)

SKINNER, B. F. (1968). The technology of teaching. New York Appleton-Century- Crofts.

SKINNER, B. F. (1969). Contingencies of reinforcement: A theoretical analysis.

New York: Appleton-Century-Crofts.

SKINNER, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.

ZURIFF, G. E. (1979). Ten inner causesBehaviorism, 7, 1-8.

AZRIN, N. H.; HUTCHINSON, R. R. e HAKE, D. F. (1966). Extinction-induced

aggressionJournal of the Experimental Analysis of Behavior9, 191-204.

Gostou do conteúdo? Compartilhe!