INTRODUÇÃO
São muitos os fatores que influenciam a escolha de uma profissão, desde atributos individuais a convicções políticas e religiosas, valores crenças, situação econômica política do país, família e os pares. Santos (2005, p.59) ressalta que as escolhas vivenciadas são realizadas a partir de modelos familiares, que estes acabam influenciando no juízo de valores acerca das profissões. Partindo desse pressuposto o capítulo a seguir abordará os seguintes subtítulos: breve histórico sobre orientação profissional, adolescente e o processo de escolha profissional e os fatores influentes na escolha profissional.
1. Um breve histórico sobre Orientação Profissional
O processo de industrialização, gerou uma grande modificação mundial, munindo o indivíduo da oportunidade de escolha de seu ofício e ainda se realizarem por meio
desse. Em outro momento, a ocupação profissional de uma pessoa era de acordo ao nível social de sua família, sendo esta transmitida geracionalmente, portanto, a escolha de uma profissão é algo novo, sendo mister uma exigência social,orientar se profissionalmente (GUICHARD, 2011; MOURA, 2011).
As origens da orientação profissional são referenciadas na Europa no ano de 1902, entretanto a ela nasce oficialmente entre 1907 e 1909, com a criação do primeiro centro norte-americano de Orientação Profissional, bem como com a publicação do livro de Frank Parsons sobre o mesmo assunto.Ele é considerado o pai da Orientação Profissional e trouxe conceitos da Psicologia e Pedagogia, no seu livro, propunha que o processo de orientação profissional, deveria levar em consideração aspectos ligadosaos indivíduos, às ocupações e a relação entre eles (SPARTA, 2003).
A consolidação e expansão da Orientação Profissional como área de atuação se deu devido às duas grandes Guerras Mundiais. Na América Latina, o Brasil junto com a Argentina, foram os precursores nesse campo (MOURA, 2011; NEIVA, 2013). Com o criação e implementação dos testes psicológicos, o processo de Orientação
Profissional, passou a ter influência da Psicologia diferencial e Psicometria, tendo como eixo a realização de diagnósticos e prognósticos para a adequada “recomendação” de profissões/ocupações, sendo este modelo de atuação resultante da Teoria do Traço e Fator (SPARTA, 2003).
Na década de 1940, com os pressupostos de Carl Rogers da Teoria Centrada na Pessoa (ACP), é que a prática no que se diz respeito à Orientação Profissional, começaram a sofrer mudanças, aderindo ao modelo não diretivo de intervenção. Surgiram então na década de 1950 as teorias para embasar este campo tais como: Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Ginzberget al (1951), que foi considerada a percussora dessas teorias. Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald Super
(1953) e a Teoria Tipológica de John Holland (1959) (SPARTA, 2003). Sobre a Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Ginzberget, vale ressaltar que nela a escolha profissional é entendida como um processo do desenvolvimento humano, portanto ocorre entre o final da infância e o início da vida adulta. A Teoria do Desenvolvimento Super, considera que o processo de escolha ocorre durante toda a vida, por meio períodos vocacionais e da realização das obrigações do processo evolutivo. No caso da Teoria Tipológica para delinear grupos e espaço de trabalho, traça uma relação ente interesses profissionais e as características de personalidade (SPARTA, 2003).
Observa-se que a Psicologia Vocacional pode ser perfeitamente dividida em dois períodos: 1900 a 1950, com predominância da Psicometria; e 1950 até hoje, caracterizado pelos novos entendimentos, no que tange à escolha profissional (NEIVA, 2013; SPARTA, 2003).
No cenário brasileiro a Orientação Profissional teve início em 1924 ligada à Psicologia Aplicada, entre as décadas de 1930 e 1940, atrelou-se a Educação. Essa aproximação resultou da necessidade de mão de obra qualificada para o comércio, indústria e agricultura. No entanto foi em 1940, com a Fundação Getúlio Vargas teve seu apogeu devido, pois essa entidade dedicava ao estudo da relação entre a Organização o Trabalho e Psicologia (SPARTA, 2003). Foi nesse cenário que a Psicometria se desenvolveu, servindo de apoio para criação do Instituto de Seleção e Orientação Profissional, estes com o propósito de adequar o indivíduo e a atividade laboral. As ações tinham como base a Teoria da Administração Científica do Trabalho, não considerava os aspectos idiossincráticos dos indivíduos e os fatores sociais (ABADE, 2005).
A partir da década de 1970, amplia sua área de atuação bem como o processode Orientação Profissional. Esse passa ser avaliado a partir de um olhar crítico, com o objetivo de estruturar um referencial teórico inerente ao campo, fomentaram discussões sobre escolha profissional passa ser entendida como um processo, e a maturidade dos indivíduos para tomada de decisões. Na década de 1990 foi fundada a Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP) cujo objetivos compreendiam desde a formação do orientador profissional até o estabelecimento de normas e diretrizes para a área (ABADE, 2005).
A Orientação Profissional pode ser compreendida pelos mais diferentes pontosdie vista, no entanto, Ribeiro (2011 apud NEIVA, 2013. p. 21) sintetiza melhor o que deve ser entendido como proposta:
[…] um processo de ajuda de caráter mediador e cooperativo entre um profissional preparado teórica e tecnicamente com as competências básicas exigidas e desenvolvidas para um orientador profissional e um sujeito ou grupo de sujeitos que necessite de auxilio quanto a elaboração e consecução do seu projeto de vida profissional/ocupacional com todos os aspectos envolvidos do seu comportamento vocacional (conhecimentodeseuprocesso de escolha, autoconhecimento, conhecimento do mundo do trabalho e dos modelos de elaboração de projetos).
Pode-se observar após essa afirmação, é que a orientação Profissional exige um preparo daquele profissional que fará a mediação do processo. Vale também enfatizar que no Brasil as intervenções em Orientação Profissional são realizadas tanto por psicólogos quanto pedagogos, e que o termo considerado adequado é “orientação
profissional” pois o objetivo é apontar uma nova perspectiva da área destaforma, distanciando-se da concepção de vocação profissional (SPARTA, 2003; MOURA, 2011).
O fato do processo de escolha profissional geralmente acontecer na adolescência, e feito isso o indivíduo assume uma nova posição diante do mundo, nosfaz perceber Orientação profissional como um moderno rito preliminar de passagem da adolescência à vida adulta. Mas vale afirmar que, ritual passagem efetivo se dá no momento em que o indivíduo assume seu lugar social sustentando uma escolha profissional, tendo assim finalizado a elaboração do luto infantil (SOARES, 2001).
2. O adolescente e o processo de escolha profissional
Em meio a todas as transformações ocorridas na adolescência, está implícita a escolha de uma profissão. Nesse processo de escolha, deve-se levar em consideração os valores, aspirações, habilidades, condições socioeconômicas e o projeto de vida desse adolescente, uma vez que ele é um indivíduo e carrega dentro de si aspectos únicos de história de vida. Em relação à escolha e ao projeto de vida profissional, está entre o desfio, a descoberta de novas formas de lidar com as transformações que vem passando tanto a família, quanto o universo de trabalho nas sociedades capitalistas globalizadas (XIMENES, 2004).
Cabe lembrar que a profissão é a primeira grande escolha de uma gama de escolhas que o jovem fará ao longo de sua carreira profissional. Para Lemos e Ferreira(2004), todo e qualquer processo de escolha envolve um levantamento das possibilidades boas ou ruins, em outras palavras pode ter perdas ou ganho. Com o tempo o jovem terá que escolher não só a profissão, mas especializações que cursará,as empresas as quais prestará serviço dentre outras decisões, para isso ele precisa estar ciente que suas escolhas trazem consequências.
Autores como Mahl, Soares e Oliveira Neto (2005), afirmam que o momento daescolha profissional é determinado socioculturalmente, sem que haja alguma relaçãocom um pressuposto amadurecimento biopsicossocial. Neste grupo etário, o indivíduoainda se encontra em processo de amadurecimento, como consequências diretas à escolha de uma profissão nessa fase temos: abandono do curso escolhido, insatisfação em relação a atividade laboral escolhida, mudanças de cursos e ainda, atuação profissional em área diferente do curso de graduação.
A escolha profissional acontece na fase do desenvolvimento na qual o adolescente está ainda tentando perceber melhor seus gostos, interesses e motivações Lucchiari (1993). Corroborando com esse pensamento Castanho (1988) acredita que esse momento é muito confuso, pois o adolescente não está se definindoapenas em termos profissional, mas em termos político, religioso, sexual, bem como tentando tornar-se independente dos pais de forma a ocupar um lugar adulto no seio familiar. Neste contexto quando escolher uma profissão, o adolescente não só decide oque quer fazer, mas o que deve ser, ou seja, é escolher um estilo de vida, uma formade viver. Vale lembrar que escolha profissional está para além de um curso ou de uma atividade de trabalho, mas faz parte desse conjunto, o tipo de lugar onde se prestará o serviço, o ambiente de trabalho, a rotina, salários, prestígio (status). Diante do ato de escolher, das possíveis perdas e ganhos Bohoslavsky (1991, p. 79-80) comenta que:
quem escolhe não está escolhendo somente uma carreira. Está escolhendo como que trabalhar, está definindo para que fazê-lo, está pensando num sentido para a sua vida, está escolhendo um como, delimitando um quando e onde, isto é, está escolhendooinserir-senumaáreaespecíficadarealidade ocupacional. Estádefinindoquem vai ser, ou seja, está escolhendo um papel adulto e, para fazê-lo, não pode se basear noutra coisa que não o quem é.
A escolha profissional envolve alguns critérios tais como pesquisar sobre cursos do interesse do indivíduo análise da possibilidade do mercado de trabalho, opinião de seus familiares e pares. Vários são fatores que podem influenciar o adolescente na escolha profissional. Segundo Primi et al. (2000) consideram aescolha como um produto da integração entre diversas experiências que o sujeito construiu ao longo do desenvolvimento. Os mesmos autores seguem explicando queexistem dois fatores que podem ter implicações no processo de formação de identidade ocupacional, o primeiro, aborda dois microssistemas, o contextoeducacional e familiar, o segundo fator aborda os aspectos afetivos, intelectuais e sociais do indivíduo. No que tange o adolescente e a escolha profissional, observa- se uma crescente necessidade de transformar essa experiência em um momento de reflexão sobre sua condição de vida de ser humano, cidadão, para que consiga ter condições de avaliar quais são os passos necessários para que suas aspirações sejam levadas em consideração no momento de decidir.
3. Fatores influentes no processo de escolha profissional do adolescente
Para Soares (2002) o jovem pode escolher dentro do universo de opções ofertado pelo sistema econômico e que são restritas pela classe social a que pertencee pelas influências familiares. A autora elenca vários fatores que interferem no momento da escolha profissional, são eles: políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos.
Os fatores políticos, referem-se à política governamental e seu posicionamentofrente ao sistema educacional brasileiro. A falta de investimentos relevantes no ensinomédio e ensino superior. No entanto fatores econômicos estão relacionados ao mercado de trabalho, globalização, falta de oportunidade e desemprego. Mesmo cursando o Ensino Superior o jovem não tem a garantia de emprego após a conclusão da graduação.
Os fatores sociais por sua vez se referem à estratificação social, ou seja a divisão da sociedade em classe. Esses fatores estão relacionados à classe em que oindivíduo nasce determinará oportunidade de formação profissional e posteriormente de emprego. Quanto aos fatores educacionais está incluído o sistema de ensino, apesar do sistema de cotas, uma parcela cada vez menor tem acesso às Universidades Públicas, principalmente das camadas menos favorecidas.
Por último e não menos importante estão os fatores psicológicos que ser referem aos interesses, as competências e habilidades pessoais, motivação contra a desinformação à qual o sujeito está exposto e os fatores familiares esses comtemplam a tentativa de “agradar” ou atender as expectativas familiares em detrimento aos interesses pessoais. O desejo dos pais em realização a profissionalização dos filhos.
4. As expectativas dos pais e o comportamento ansioso dos alunos que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
Como quase todas as Universidades, inclusive as mais concorridas do país, adotam as notas do ENEM como forma de entrada, faz com que este exame que acontece uma única vez ao ano, no Brasil, seja bastante concorrido. Nesta lógica o aluno que conclui o Ensino Médio, tem além da escolha profissional a maratona de estudos para a prova do ENEM, a expectativa familiar sobre a escolha profissional desse aluno. Pode-se perceber esse ambiente, assume característica relevante ao aparecimento ou manutenção do comportamento ansioso desse jovem em que ele pode estar sofrendo um desgaste emocional vivenciado pela dificuldade de decidir. Como objetivo de compreender a relação entre expectativas dos pais e comportamento ansioso, neste capítulo iremos fazer a relação entre as expectativas dos pais e o comportamento ansioso dos alunos que se preparam para o ENEM, tomando como critério os artigos que serviram de base para à pesquisa de forma levara validação ou não do estudo proposto no projeto de pesquisa.
4.1 Relação entre expectativas dos pais e o ansioso dos alunos que se preparam par o ENEM
O contexto da vida do aluno que se prepara para o ENEM, independentementede classe social, ocorre num momento turbulento da vida, que é adolescência, promovendo um grau de ansiedade. Essa turbulência emocional experimentada pelo adolescente sofre o acréscimo da responsabilidade de escolha da futura carreira. Toda essa situação geram um estresse e tensão emocional que Pimentel-Souza et al (1997), dá o seguinte enfoque:
A palavra estresse significa “pressão”, “tensão” ou “insistência”, portanto,estar estressado indica “estar sob pressão” ou “estar sob a ação de estímulo insistente”. Chama-se de estressor qualquer estímulo capaz de provocar o aparecimento de um conjunto de respostas orgânicas, mentais, psicológicas e/ou comportamentais […]. Essas respostas, em princípio, têm como objetivo adaptar o indivíduo à nova situação,gerada pelo estímulo estressor, e o conjunto delas, assumindo um tempo considerável, é chamado de estresse. […] O estresse é essencialmente um grau de desgaste no corpo e da mente, que pode atingir níveis degenerativos. Impressões deestar nervoso, agitado,neurastênico ou debilitado podem ser percepções de aspectossubjetivos de estresse.
Quanto aos eventos estressores eles são classificados em dependentes e independentes, segundos aos autores (MARGIS, PICON, COSNER, 2003). Partindo dessa classificação os autores afirmam que os estressores independentes são aqueles que não estão sob controle do indivíduo, ou seja, esses eventos estão fora de sua capacidade, pode-se citar como exemplo uma etapa de decisão da vida – o ENEM. Por outro lado, os estressores dependentes, estão intimamente ligados à maneira como o indivíduo se comporta em determinada situação. Portanto a maneira como ele irá se comportar perante a chegada do ENEM, pode-se dizer que é um envento estressor dependente. Ou seja, o ENEM é um evento estressor independente que irá desencadear o envento estressor dependente. Os autores em questão estudaram as relações entre a genética, eventos da vida estressores e depressão maior, e chegaram a seguinte conclusão, eventos de vida estressores podem ser compreendidos como preditivos ambientais de ansiedade e depressão.
A escolaridade é um dos valores mais exigidos no Brasil, tem assumido o patamar de requisito ainda que para ocupações consideradas mais simples. Nesta perspectiva a possiblidade de acesso e permanência na escola está ligado à condiçãosocial e econômica do grupo, familiar, é razoável pensar no ENEM como um marco na carreira acadêmica (BOCK, FURTADO, TEIXIERA, 2005). O aluno além de decidirsobre o que “vai querer da vida”, correndo o risco de errar na escolha do curso, e ter que retomar essa etapa novamente, ele decidirá ainda sobre onde fará o curso se numa universidade pública ou privada, tem que analisar as condições financeiras familiar e não muito raro, trabalhar durante todo o processo.
Pode-se afirmar que durante a fase de preparação para o ENEM, o aluno/adolescente vai enfrentar não só incertezas relacionadas ao desempenho na prova, como forte pressão familiar e dos amigos essas situações funcionam como gatilho ao comportamento ansioso. Muitos alunos já que já passaram pelo exame antes e não receberam aprovação, podem ter como antecedentes o estado emocional e psicológicos no dia da prova, esse sentimento de obrigação de fazer a prova, e ainda considerar esse evento como decisivo em sua vida, são duas variáveis importante na ansiedade na vida dos indivíduos que se preparam para o ENEM. Alves (1995) nomeia “efeito guilhotina” o terror psicológico que é contagiante e crescente à medida que o exame se aproxima. Já Soares (2002) enfatiza que no ano que antecede prova o estudante pode sofrer de vários distúrbios psicofiosiológico, dentre eles a depressão, tamanha a pressão sofrida pelos jovens no dia da prova.
O ENEM é um evento estressor, por esta razão Freitas (2016), corrobora com algumas medidas de precaução como forma de minimizar a ansiedade na hora da prova:
Uma crise de ansiedade na hora da prova é uma situação ainda mais difícil de ser controlada, já que ela pode se retroalimentar – com medo de que a ansiedade o atrapalhe, o estudante fica ainda mais ansioso.
Especialistas são unânimes na tese de que os efeitos da ansiedade afetam o desempenho do estudante. Nos cursinhos pré-vestibulares, professores reiteram a necessidade de relaxar na véspera, por exemplo, e dão dicas de respiração e meditação para ajudar os alunos a controlarema ansiedade e o nervosismo – e impedir que eles impeçam que o estudante demonstreo conhecimento que adquiriu na hora H. As principais recomendações de especialistas sugerem atividade física em quantidades moderadas, uma maneira eficiente dediminuir a ansiedade. Também indicam que o estudante defina estratégias prévias para resolver as questões da prova, se alimente de maneira equilibrada e saudável ediminua o ritmo dos estudos nos dias que antecedem o exame (FREITAS, 2016, s. p).
Para alcançar êxito na prova a habilidade e lidar com ansiedade é fundamentalquase que comparada ao próprio conhecimento acadêmico. Muitos alunos com boa bagagem de conhecimento, são muitas vezes reprovados sucessivamente, por esta razão Rodrigues e Pelisoli (2008), numa pesquisa publicada na Revista de Psiquiatria (USP) afirma que a instituições de ensino invistam em serviço de apoio psicológicos aos alunos que se preparam para o exame, como forma de ampliar o autoconhecimento do jovem e dar suporte ao aluno desenvolver habilidades para lidar com ansiedade num momento crucial de sua vida.
Neste estudo ao investigar como as expectativas dos pais poderiam ter relaçãocom o comportamento ansioso dos alunos que se preparam para o ENEM, deve-se levar em consideração a dimensão interpessoal envolvida na predisposição à ansiedade. Em estudos desenvolvidos por Kashani,Vaydia, Solys, Dandoy, Katz e Reid(1990) apontam sobre o desenvolvimento da ansiedade das crianças estarem associados à ansiedade de seus pais e mães. Outro pesquisador Lipp (1989) considera que a vulnerabilidade do indivíduo ao estresse está relacionada às características desenvolvidas durante sua história de vida, ou seja como se dava o enfrentamento diante do ambiente e ansiedade, o mesmo autor ainda acrescenta queos pais exercem um papel importante nesse sentido, tanto em termos biológicos (hereditariedade) quanto de aprendizagem, uma vez que são os pais que tornam os filhos mais ou menos aptos a lidar com situações estressoras.
Ao longo do tempo foram realizadas pesquisas, como forma de mensurar a ansiedade. Spielberg (1972), lembra que é necessário fazer uma distinção entre estados transitórios de ansiedade, como estado de ansiedade e de diferenças individuais de propensão à ansiedade, como tração de personalidade. Ainda sobre ansiedade em crianças, autores como Brandura e Walters (1963), na Teoria da Aprendizagem Social, consideravam que o desenvolvimento emocional da criança está associado à relação pais-filhos. Sobre a mesma teoria, ela considera que as respostas emocionais além de serem aprendida in locus de forma direta, pode também pode ter seu aprendizado facilitado por observação. Por fim, par a Teoria da Aprendizagem Social a resposta de ansiedade, bem como de comportamentos defensivos e outras emoções podem ser desenvolvida dessa forma.
Neste contexto as pesquisas que investigam o papel do modelo adulto no desenvolvimento de respostas emocionais em crianças, validam o pensamento, que o desenvolvimento de resposta de ansiedade e medo são mediados por modelação (KASHANI, VAYDIA, SOLYS, DANDOY, KATZ & REID, 1990). Uma pesquisa realizada com 40 crianças de ambos os sexos e seus genitores, por Muris, Steerneman, Mercklbach e Meester (1996), que investigava a contribuição parental para o desenvolvimento de medo nos filhos e ainda a relação entre a ansiedade de pais e filhos, demonstrou que a maioria das crianças atribui a causa dos seus medos à modelação e aos processos de informação e aprendizagem, que a ansiedade traço dos filhos tinha correlação com ansiedade-traço dos genitores. Observou-se ainda, que os filhos de mães que expressam seus medos têm escore maior do que os filhos de mães que nunca expressam seus medos.
Autores como Capps, Sigman, Sena e Henker (1996) corroboram do seguinte argumento, que filho de pais ansiosos parecem ser mais ansiosos e medrosos do que filhos de pais não ansioso, e afirma que exposição a pais com desordens de ansiedade predispõem a criança a desenvolver ansiedade por modelação. Seguindo em pesquisas com sobre Medo, Ansiedade e Controle Percebido em Crianças de Pais Agorafóbicos, eles obtiveram o resultado de que crianças com pais agorafóbicos são mais ansiosas têm uma predisposição maior a desenvolver a desordens de ansiedade, reforçam que esses resultados sugerem que a modelação contribui para e perpetuação de ansiedade em famílias.
No estudo das autoras Techman, Rafael e Giliae (1990), em 60 crianças hospitalizadas, entre 6 e 12 anos de idade, de ambos sexos, observaram que a ansiedade-estado das crianças eram influenciadas e que as mesmas tinham ansiedade-traço dos pais. O estudo ressalta que tanto as crianças com ansiedade traço baixo, quanto as com ansiedade-traço alto, tiveram aumento significativo no escore ansiedade-estado, quando percebiam os pais mais ansiosos. Com isso as autoras mostraram que a ansiedade das crianças é influenciada pela ansiedade do adulto ou de que elas são próximas, ou seja, se a criança é exposta a adultos (pais ou cuidadores), ansiosos há um aumento considerável no seu estado de ansiedade.
No que diz respeito ao gênero outras pesquisas mostram que há uma diferençana expressão emocional e que a modelação e a socialização das emoções das crianças pelos pais são influenciadas tanto pela idade quanto ao gênero. Sobre essaquestão Dutton, Welb e Ryan (1994), quando pesquisaram sobre expressão familiar diante de conflitos familiares, observaram que as mulheres apresentam medidas de respostas emocionais mais altas que os homens, as mulheres reagem com mais ansiedade frente às provocações enquanto que os homens são mais agressivos. ParaGarner, Robertson e Smith (1997) os pais quanto à expressão emocional e as estratégias de socialização, agem diferente em relação aos gêneros. Esses autores realizaram uma pesquisa com 82 crianças do 4º e 5º ano, constataram que as mães são mais afetivas de forma positiva com as meninas e, que os pais expressam mais raiva diante dos filhos do que das filhas. No panorama da adolescência, a construção da autonomia não é diferente da infância ela está intrínseca às estratégias educativas e ao clima emocional familiar oferecidos pelos pais.
Durante a execução deste estudo, os resultados sugerem haver uma relação importante entre as expectativas dos pais em relação ao comportamento ansioso dos alunos que se preparam para o ENEM. Corroborando com o pensamento de Bock, Furtado, Teixeira (2005) que concordam haver no grupo familiar influência nas principais pressões e nos principais elementos quanto a escolha do indivíduo, o mesmo se dá na escolha de sua profissão, como uma forma de gerar expectativas, também durante o estudo, observou-se que os pares/amigos podem estabelecer uma relação entre expectativa-ansiedade, como confirmam Bock, Furtado, Teixeira (2005), que os grupo de amigos interferem significativamente nas decisões dos jovens.
O comportamento ansioso é observado com maior frequência nos estudantes no períodoque se preparam para o ENEM, sabe-se portanto que ansiedade afeta cada indivíduode forma diferente, a interação social e os eventos vitais negativos podem produzir resultados distintos na resposta, algumas pesquisas como de Huzt e Bardagir (2006),com mães de adolescentes frente ao primeiro exame, ficou demonstrado que elas consideravam seus filhos inseguros e imaturo, fazendo com que assumissem um papel mais controlador, percebe-se que os pais colocam expectativas nos filhos, querendo ou não acabam influenciando na decisão acerca da profissão aumentando a vulnerabilidade do indivíduo ao desencadeamento do comportamento ansioso.
- Conclusão
O estudo indica que os alunos que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio, reconhecem o papel das expectativas dos pais na implementação da escolha profissional. De um modo geral os pais exercem esse papel através da relação que estabelecem com seus filhos. Esse resultado é pertinente e corrobora com as perspectivas teóricas e empíricas que da literatura de orientação profissional no contexto do desenvolvimento da carreira.
Para além dos processos da influência parental, os estudos apontam outros fatores importantes tais como: sociais, econômicos e psicológicos que podem servir como estressores, no entanto se bem administrados podem ter efeitos desejáveis como por exemplo, autonomia/responsabilidade, sucesso na área profissional de escolha e sentimentos de aprovação.
No que diz respeito às expectativas dos pais no comportamento ansioso dos alunos que se preparam para o ENEM, a relação que se estabelece entre pais e filhosnos artigos estudados, apontam como fator desencadeador do comportamento ansioso, o que é coerente com investigações realizadas. Ainda sobre essa expectativa, ela excede o projeto vocacional, se projetando para outras áreas da vidado adolescente, tais como escolar, desenvolvimento pessoal e a resolução de problemas. Face ao exposto, as expectativas dos pais e comportamento ansioso dos filhos,reafirma as formulações teóricas que realçam a interação organismo-ambiente, oestresse encontrado em estudante é maior durante o preparo para o ENEM/vestibular,deduzindo assim que este por si só é um estressor de grande impacto para os jovens.Deste modo, observando-se os dados colhidos nesse estudo, é importante estudar e implantar alternativas e estratégias de apoio a estes indivíduos, para que a situação de estresse e nível de ansiedade apresentados não apresente prejuízos à sua vida.
Existem recursos para diminuir a ansiedade, seria uma alternativa não só envolver o aluno, mas a família nos processos de intervenções, pois os pais poderiamcontribuir para produção de conhecimento acerca da saúde emocional do vínculo pais-filhos, e gerar condições facilitadoras no processo de gestão do comportamento ansioso do aluno que podem ser de grande valia no autoconhecimento, como também no fortalecimento das relações familiares.
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