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O impacto psicológico da mudança digital no tédio e na concentração

A compreensão da relação entre a mudança digital e o tédio é de suma importância. A transformação digital representa o processo em que as empresas empregam tecnologias digitais para resolver questões tradicionais, como declínio de desempenho, produtividade, agilidade e eficácia. Esse processo demanda modificações estruturais na organização (Times Brasília, 2022).

Novas perspectivas sobre a capacidade de atenção estão emergindo devido aos possíveis impactos da interação com tecnologias digitais. Stone (2009) foi o pioneiro a descrever, em 1998, a atenção parcial sustentada, associando-a de perto ao efeito da tecnologia. Esse conceito está vinculado à realização de múltiplas tarefas, como responder a e-mails, conversar e ouvir música, levando as pessoas a focarem parcialmente em cada atividade. Embora haja uma correlação entre atenção parcial sustentada e multitarefa, esses termos podem ser considerados sinônimos. O primeiro conceito refere-se à interação e comunicação sem foco total, impulsionado pelo desejo de não perder nada, enquanto o segundo termo diz respeito à realização simultânea de várias tarefas, visando à eficácia (Firat, 2013; Freire et al., 2023).

Os estudos, sejam bibliográficos ou pesquisas empíricas, exploram a relação entre a atenção e as tecnologias digitais em várias perspectivas. Com as implicações das tecnologias no desempenho da atenção em consideração, a avaliação das obras selecionadas identificou três abordagens: estudo dos efeitos das tecnologias no desempenho da atenção, a utilização das tecnologias em intervenções para aprimorar a atenção e a aplicabilidade das tecnologias na melhoria da atenção em ambientes educacionais. Cada uma dessas abordagens é crucial para a análise de como as tecnologias digitais contribuem para diminuir ou aumentar a capacidade de atenção das pessoas. Na primeira abordagem, que envolve a investigação dos efeitos negativos das tecnologias, Ramos & Vieira (2020), destacam a questão da distração. Esses níveis estão ligados ao uso de dispositivos móveis e redes sociais, especialmente pela constante exposição a notificações e multitarefa digital, levando à fragmentação da atenção, à perda de foco e à redução da capacidade de concentração em atividades prolongadas.

A segunda abordagem concentra-se em intervenções que empregam tecnologias para melhorar o foco. Um exemplo disso é a intervenção com aplicativos de treinamento cognitivo, que, por meio de jogos e exercícios de foco específicos, ajudam as pessoas a aprimorar sua capacidade de foco e a reduzir a distração. A literatura revela que, quando utilizadas de maneira equilibrada e regulada, as tecnologias podem ser ferramentas eficazes para aprimorar o foco.

Por último, a terceira abordagem analisa o impacto das tecnologias na educação, examinando de que forma as ferramentas digitais podem ser incorporadas ao ensino para incentivar uma maior concentração dos estudantes. Métodos como o uso de plataformas interativas, conteúdos multimídia e ambientes de aprendizagem personalizados têm apresentado resultados promissores, estimulando o engajamento e a concentração dos estudantes em atividades educacionais.

Um fenômeno de crescente relevância em nossa sociedade: o “digital switching”

A prática de alternar rapidamente entre diversos vídeos curtos busca manter um constante interesse, porém, pode resultar no oposto desejado, gerando um crescente sentimento de tédio.

Quais os motivos por trás desse fenômeno?

  • Falta de imersão:
    Ao transitar rapidamente entre vídeos, há pouco tempo para aprofundamento, o que impede conexões significativas com o conteúdo, resultando em superficialidade.
  • Dificuldade de concentração:
    A incessante busca por novidades sobrecarrega o cérebro, dificultando a concentração em uma única tarefa. Essa fragmentação da atenção pode tornar desafiador manter o foco em atividades que demandam concentração.
  • Ciclo vicioso:
    O consumo excessivo de vídeos curtos em busca de entretenimento pode gerar um ciclo vicioso, tornando mais difícil encontrar conteúdos cativantes, intensificando o tédio.

Como reverter esse cenário?

  • Explorar conteúdos extensos:
    Diversificar para livros, podcasts ou documentários pode estimular a mente e aprofundar o conhecimento em diversas áreas.
  • Estabelecer limites:
    Definir horários específicos para o consumo de vídeos e criar momentos sem tecnologia podem ajudar a controlar a compulsão por navegar nas redes.
  • Praticar atividades concentradas:
    Atividades como leitura, meditação e resolução de quebra-cabeças podem aprimorar a concentração e reduzir o tédio.

A investigação acerca do “digital switching” destaca os riscos de uma sociedade fragmentada e imediatista. Ao equilibrar o consumo de conteúdos breves com atividades que demandam concentração, é possível usufruir dos benefícios da tecnologia sem comprometer a conexão mais profunda com o mundo que nos cerca.

As tecnologias digitais desempenham um papel dual na gestão da atenção: podem funcionar como uma distração ou como um meio de aprimoramento cognitivo. A chave está na forma como essas ferramentas são utilizadas, destacando a importância de estratégias cuidadosamente planejadas e da conscientização sobre seus impactos para maximizar os benefícios e minimizar os prejuízos. A era da transformação digital exige uma mudança de paradigma nas organizações, que passam a adotar a tecnologia para manter-se atualizadas, aprimorar seu desempenho, ampliar sua presença de mercado e contribuir para avanços tecnológicos que impactam as pessoas em escala global (Times Brasília, 2022).

Estratégias para mitigar os impactos psicológicos negativos da mudança digital

É crucial, nesse contexto, desenvolver estratégias de prevenção e intervenção no bem-estar digital. Ou seja, é fundamental informar a população sobre os riscos do uso excessivo da tecnologia e promover um equilíbrio entre o mundo online e offline. Além disso, recursos de apoio psicológico também devem estar acessíveis caso o uso problemático da tecnologia e da internet resulte em problemas de saúde mental (Freire et al., 2023).

Com base nas análises realizadas, a era digital representa simultaneamente uma ameaça e uma solução para a saúde mental. A informação e a educação sobre os riscos associados ao uso excessivo das tecnologias são cruciais. Por sua vez, o acesso a recursos de apoio psicológico online e offline é essencial para as pessoas que enfrentam problemas de saúde mental devido a questões relacionadas à era digital (Freire et al., 2023).

Em síntese, a era digital alterou significativamente os comportamentos diários, principalmente no âmbito da comunicação. No entanto, tornou-se um fator de risco para a saúde mental, uma vez que a pressão pela imagem ideal online, o cyberbullying e os relacionamentos superficiais nas redes sociais emergem como problemas urgentes (Freire et al., 2023). É crucial equilibrar o uso da vida digital com foco e atenção na saúde emocional. Para isso, a desconexão, a meditação e a prática de esportes são comportamentos que podem reduzir o impacto negativo da vida digital. A educação sobre o uso consciente nas mídias sociais e a promoção de relacionamentos saudáveis também podem transformar o ambiente online.

As instituições educacionais, as entidades governamentais e as plataformas digitais devem estabelecer políticas e ferramentas para proteger os usuários e promover a saúde mental. Interações online positivas, apoio psicológico e combate ao cyberbullying são fundamentais para a prevenção. A era digital está intrinsecamente ligada a inovações e conveniências que exigem adaptação e equilíbrio. Somente assim podemos usufruir de seus benefícios sem comprometer nossa saúde mental e emocional.

Bibliografia

De Melo Freire, C. A., de David, F., de Souza Farias, M. C., Santos, E. S., & Castro, A. C. F. (2023). DESAFIOS DA SAÚDE MENTAL NA ERA DIGITAL. RevistaFT. https://doi.org/10.5281/zenodo.10215138

Dos Santos, Andréia Cristina Lopes D A Silva, Ítala Vanessa França D E Sousa, Roberta Kelly Silva. (2023). IMPACTOS DA ERA DIGITAL NA SAÚDE MENTAL DOS JOVENS [Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA]. https://www.grupounibra.com/repositorio/PSICO/2023/impacto-da-era-digital-na-saude-mental-dos-jovens.

Equipe Times Brasília. (2022, julho 15). Transformação Digital: o que é e quais os seus impactos na sociedade. Jornal Times Brasília. https://timesbrasilia.com.br/ciencia-e-tecnologia/transformacao-digital-o-que-e-e-quais-os-seus-impactos-na-sociedade/

Firat, M. (2023). Atenção parcial contínua como uso problemático da tecnologia: um caso de educadores. The Journal of Educators Online, 20.

Rabelo, A. (2020, março 11). Transformação Digital: o que é e quais os seus impactos na sociedade. Rock Content – BR; Rock Content. http://rockcontent.com/br/blog/transformacao-digital

Ramos, D. K., & Vieira, R. M.. (2020). Repercussões das tecnologias digitais sobre o desempenho de atenção: em busca de evidências científicas. Revista Brasileira De Educação, 25, e250048. https://doi.org/10.1590/S1413-24782020250048

Stone, L. (2009, novembro 30). Beyond simple multi-tasking: Continuous partial attention. Linda Stone. https://lindastone.net/2009/11/30/beyond-simple-multi-tasking-continuous-partial-attention/

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