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O que é tido como anormal é tão anormal assim?

Conforme a perspectiva da Análise do Comportamento, os comportamentos que são identificados como psicopatológicos são igualmente influenciados pelas contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais. Estes comportamentos estão intrinsecamente ligados às variáveis ambientais e seguem os princípios da aprendizagem, tanto no seu desenvolvimento quanto na sua persistência. Nesse sentido, um comportamento “anormal” pode ser entendido como um comportamento típico que acontece em intensidade e frequência (excessos ou déficits comportamentais) que causam sofrimento para o indivíduo, o que, por conseguinte, indica a necessidade de acompanhamento psicológico e, em muitos casos, a inclusão do tratamento psiquiátrico (Banaco, Zamignani, Martone, Vermes, & Kovac,, 2012; Gongora, 2003).

O psicólogo, especialmente o terapeuta, depara-se frequentemente com diagnósticos psiquiátricos e comportamentos considerados atípicos em sua prática. Rotineiramente, deparamo-nos com a associação simplista de sintomas como tristeza com depressão, mudanças de humor rápidas com bipolaridade ou comportamentos extravagantes com esquizofrenia. Essas categorizações simplificadas dos transtornos psiquiátricos pelo senso comum costumam ser confundidas com o estigma da “loucura”.

A psicopatologia é um campo de estudo que se dedica à análise das enfermidades mentais e suas manifestações. O termo tem origem grega, em que “psykhé” significa alma, “pathos” remete a doença e “logos” refere-se ao estudo. Contudo, essa definição reflete a tradição dualista mente-corpo, que interpreta os comportamentos como decorrentes de eventos internos de natureza metafísica. Tal concepção não está alinhada com os preceitos do Behaviorismo Radical e oferece escasso aporte para a compreensão e análise dos comportamentos considerados “desviantes”. Em síntese, a psicopatologia visa compreender as modificações estruturais e funcionais associadas às doenças mentais, embora seja fundamental contemplar abordagens mais integrativas para uma compreensão abrangente dos comportamentos humanos.

No que concerne à prática terapêutica, é incumbência do profissional elaborar uma análise funcional. Essa análise é essencial para direcionar o caso, demonstrando ao cliente que o diagnóstico não deve ser usado como desculpa, mas sim como uma ferramenta de compreensão. Além disso, é crucial esclarecer à família e ao público em geral que os comportamentos observados não são meramente voluntários ou aleatórios. O propósito da intervenção não consiste em “normalizar” o indivíduo no sentido de adequá-lo às normas sociais, mas sim em criar as condições necessárias para que ele possa adotar comportamentos benéficos tanto para si mesmo quanto para os outros.

Aqueles comportamentos chamados de “psicopatológicos” talvez sejam assim classificados por serem diferentes, de modo algum por serem inferiores. Oliver Sacks (1991) no prefácio de seu livro “Um Antropólogo em Marte” descreve que “deficiências, distúrbios e doenças podem ter um papel paradoxal, revelando poderes latentes, desenvolvimentos, evoluções, formas de vida que talvez nunca seriam conhecidas, ou mesmo imaginadas, na ausência desses males. Nesse sentido, é o paradoxo da doença, seu potencial criativo” (p. 13). Nenhum comportamento é psicopatológico em si mesmo, precisa ser analisado a partir de um olhar muito mais amplo, que seja suficientemente sensível para identificar que contingências o produziram, compreendendo que a partir das variáveis em vigor e da história de reforçamento, o comportamento aparentemente “anormal” apresentado, é na verdade, o mais normal que poderia ser.

Referências

Banaco, R. A.; Zamignani, D. R.; Martone, R. C.; Vermes, J. S.; Kovac, R. (2012) Psicopatologia In: Hubner, M. M. C. & Moreira, M. B. (Orgs.) Fundamentos de Psicologia: Temas clássicos da Psicologia sob a ótica da Análise do Comportamento (pp. 154-166). Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.

Gongora, M. A. N. (2003). Noção de Psicopatologia na Análise do Comportamento. In: Costa, C. E.; Luzia, J. C & Sant’ana, H. H. N. (Orgs.) Primeiros Passos em Análise do Comportamento e Cognição. São Paulo: Esetec.

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