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Como posso identificar meus padrões de Autossabotagem?

Resumo

Este texto aborda a autossabotagem, um comportamento prejudicial que pode impedir o alcance de objetivos. Explora a análise comportamental desse padrão, suas causas e consequências, e destaca a importância de reconhecer e superar esses padrões autodestrutivos com autoconhecimento, apoio emocional, estabelecimento de metas reforçadoras e celebração das conquistas.

A autossabotagem na perspectiva da Análise do Comportamento

“Errar uma vez é humano, repetir o erro é…” – Esta citação nos convida à reflexão sobre a autossabotagem, um padrão comportamental que pode obstaculizar a concretização de nossos objetivos e aspirações. Analisemos esta questão à luz da Análise do Comportamento.

A autossabotagem consiste em prejudicar a si mesmo ao repetir ações ou comportamentos contraproducentes. É como se deliberadamente colocássemos obstáculos em nosso próprio caminho, mesmo cientes da improdutividade desse comportamento.

Realizar ações que possam prejudicar a si mesmo, ou tomar atitudes que, segundo o cliente, aparentam buscar o sofrimento, além de comportamentos cujo único propósito é autoinfligir punição, mesmo sem merecê-la, em certos aspectos da vida. Em geral, a autossabotagem está relacionada a áreas de grande importância para o indivíduo, porém, muitas vezes, parecem inatingíveis. Enquanto outras teorias já exploraram esse tópico, qual seria a contribuição da análise comportamental nesse contexto?

A autossabotagem é discutida em diferentes abordagens terapêuticas, sendo vista como um “vício” pelo sofrimento ou uma “compulsão pela repetição” (Hermes & Rosner, 2014). A psicanálise a associa a dilemas inconscientes da infância, enquanto a análise do comportamento foca em padrões problemáticos. Essas abordagens visam promover mudanças para comportamentos mais eficazes. O modelo de seleção por consequências sugere que a autossabotagem pode ter funções adaptativas, sendo uma etiqueta para diversos comportamentos disfuncionais.

Um padrão de “autossabotagem” pode limitar recompensas, levar à evitação de ambientes gratificantes e à permanência em situações aversivas, resultando em estresse e sensação de impotência. Pode também envolver a internalização de ambientes prejudiciais, como relacionamentos abusivos, e a dificuldade em resolver tais circunstâncias.

Essa tendência autodestrutiva pode se manifestar de diferentes formas, como procrastinação constante, falta de autoconfiança e autocrítica exagerada. Reconhecer esses padrões e buscar ajuda para transformá-los é um passo importante para melhorar a qualidade de vida e promover o autocuidado. Ao desenvolver uma maior consciência sobre nossas ações e pensamentos, podemos gradualmente romper com esses comportamentos e cultivar uma mentalidade mais saudável e positiva. Lembre-se, é possível mudar esses padrões autossabotadores e buscar uma vida mais equilibrada e plena.

É essencial ter em mente que, de acordo com os princípios comportamentais, nossas ações são moldadas por variáveis ambientais que as reforçam, enquanto nossas intenções nem sempre ditam nossas escolhas. Por exemplo, embora possamos ter a intenção de flertar com alguém, podemos evitar fazê-lo devido a experiências passadas em que comportamentos similares resultaram em consequências negativas, ou por percebermos uma baixa probabilidade de sucesso. Assim, desmistificar a ideia de que as pessoas se autossabotam por prazer no sofrimento ou por vício no mesmo é fundamental. Em vez disso, tais comportamentos provavelmente servem à “sobrevivência” do indivíduo, por meio de reforços negativos.

Geralmente, comportamentos relacionados à “autossabotagem” estão associados à evitação de situações desconfortáveis (Luoma, Hayes, & Walser, 2007). Nós internalizamos verbalmente estratégias para lidar com determinados contextos que possam gerar desconforto. Contudo, muitas vezes evitamos exposições que, apesar de potencialmente gratificantes, são desconsideradas devido a experiências desfavoráveis anteriores, ou devido a crenças autolimitantes como “não posso fazer isso”, “sofrerei se me abrir” e “é preferível manter o status quo, pois a mudança será pior”. Dessa forma, deixamos de aproveitar oportunidades de reforço significativas ou permanecemos em cenários desagradáveis por tempo prolongado, sem perceber que tal comportamento está intrinsecamente conectado ao nosso padrão de conduta.

É fundamental compreender, em primeiro lugar, o significado de “autossabotagem” para o cliente, identificando os comportamentos e contextos associados à sua queixa. Dada a ambiguidade do termo “autossabotagem”, é crucial descrever minuciosamente os comportamentos e contextos envolvidos. Inicialmente, é primordial auxiliar o cliente a reconhecer as variáveis ligadas ao seu padrão de comportamento, estabelecendo conexões entre suas ações atuais e suas consequências.

Ao compreender a autossabotagem, o cliente poderá identificar padrões prejudiciais em sua vida e trabalhar para mudá-los. Através da análise cuidadosa de comportamentos específicos e situações que levam à autossabotagem, é possível criar estratégias para superar esses obstáculos. Ao reconhecer as variáveis que influenciam seu comportamento, o cliente poderá desenvolver habilidades para tomar decisões mais conscientes e saudáveis. O processo de autoconhecimento e mudança de padrões autodestrutivos pode ser desafiador, mas com apoio e dedicação, é possível alcançar uma vida mais equilibrada e positiva.

Estabelecer metas reforçadoras de curto prazo é eficaz para iniciar novos comportamentos, evitando avançar rápido demais para evitar frustrações. Identificar comportamentos evitativos é essencial para compreender a autossabotagem, reconhecendo que a resistência é reflexo do histórico de aprendizagem e pode motivar a transformação.

Ao reconhecer e compreender os comportamentos evitativos, é possível criar estratégias para superá-los. A prática da autocompaixão e da celebração das pequenas conquistas ao longo do caminho são fundamentais para manter a motivação e a persistência. Além disso, buscar apoio emocional e incentivo de pessoas queridas pode fortalecer o processo de mudança e torná-lo mais significativo. Lembre-se sempre de que cada passo dado em direção aos seus objetivos, por menor que seja, é uma vitória a ser comemorada. Juntos, esses elementos formam a base para uma transformação positiva e duradoura em sua vida.

 

Referências

Hermes, P., & Rosner, S. (2014). O Ciclo da auto-sabotagem. (E. Rieche, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Best Seller.

Luoma, J., Hayes, S. C., & Walser, R. D. (2007). Learning ACT. Oakland, CA, USA: New Harbinger Publications.

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